quarta-feira, 28 de abril de 2010

Noite de festa

(...)

"Maravilhosos! Maravilhosos seres humanos! Espiritualizados e maravilhosos!"
"Porém eles não existem. Você não está vendo o lago, pela cabeça do Professor? Não está vendo o cisne nadar, pela saia de Mary?"
"Posso imaginar umas rosinhas de fogo espalhadas em torno deles."
"As rosinhas de fogo não são senão como os vaga-lumes que vimos juntos em Florença dispersos pela glicínia, átomos flutuantes de fogo que vão queimando enquanto voam - queimando, não pensando."
"Queimando, não pensando. E assim todos os livros por trás de nós. Aqui está Shelley - aqui está Blake. Basta jogá-los no ar para ver seus poemas descerem como pára-quedas dourados que rodopiam e brilham e vão deixando cair sua chuva de florações em forma de estrelas."
"Quer que eu lhe cite Shelley? 'Vamos! faz escuro no matagal sob a lua...'"
"Espere, espere! Não condense nossa atmosfera tão fina em gotas de chuva salpicando a calçada. Vamos respirar mais um pouco no pó de fogo."

(...)

"Coisa estranha é o silêncio. A mente se torna como uma noite sem estrelas; mas de repente um meteoro desliza, esplêndido, atravessando a escuridão, e se extingue. Por essa diversão, nunca dizemos suficientemente obrigado."
"Ah, somos uma raça ingrata! Quando olho para minha mão no peitoril da janela e penso no prazer que ela já me deu, como tocou em seda e cerâmica, em paredes quentes, como se espalmou na grama úmida ou banhada de sol, deixou o Atlântico esguichar por seus dedos, apoderou-se de jacintos e narcisos, colheu ameixas maduras, nunca por um segundo desde que eu nasci deixou de me falar de quente e frio, molhado ou seco, espanta-me que eu use esta maravilhosa composição de carne e nervos para escrever invectivas à vida. No entanto é isso o que fazemos. Pense bem a essa respeito, a literatura é o registro do nosso descontentamento."
"Nossa insígnia de superioridade; nossa ambição de honrarias. Você há de admitir que gosta mais das pessoas descontentes."

(...)

"(...) o tempo que eu tenho para a literatura eu dedico a..."
"Aos mortos."
"Detecto ironia na sua correção."
"Inveja, não ironia. A morte é da maior importância. Como os franceses, os mortos escrevem muito bem, e, por alguma razão, podemos respeitá-los e sentir, enquanto iguais, que são mais velhos e sábios, como nossos pais; o relacionamento entre vivos e mortos é certamente dos mais nobres."

(...)

"As luzes se levantam e caem; a água é rala como o ar; por trás dela está a lua. Você afunda? Ou você se levanta? Você enxerga as ilhas? Sozinha comigo?"

Virginia Woolf

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