sexta-feira, 2 de março de 2012

Nick e Jordan

- Você guia pessimamente - protestei. - Você deve ter mais cuidado, ou então deixar inteiramente de guiar.
- Eu sou cuidadosa.
- Não é.
- Bem, as outras o são - disse ela, despreocupadamente.
- Que é que isto tem a ver com o caso?
- Elas saem do meu caminho. É preciso que haja duas pessoas para que ocorra um acidente.
- Suponhamos que você depare com alguém tão descuidado quanto você.
- Espero que isso jamais aconteça - respondeu ela. - Detesto gente descuidada. Por isso é que gosto de você.

Seus olhos cinzentos, um tanto contraídos, fitavam o caminho, mas ela havia, deliberadamente, modificado o caráter de nossas relações - e, por um momento, julguei que a amava. Mas sou um sujeito de raciocínio lento e cheio de regras interiores que agem como freios sobre os meus desejos - e eu sabia que primeiro teria de desembaraçar-me completamente, quando voltasse para casa, da complicação em que me achava. Eu vinha escrevendo, uma vez por semana, cartas que terminavam assim: "Com amor, Nick" - e só o que eu conseguia pensar era no leve bigode de transpiração que aparecia sobre o lábio superior de uma certa garota, quando ela jogava tênis. Não obstante, havia entre nós um vago entendimento, que precisaria ser rompido com tato, antes que eu pudesse sentir-me livre.

Cada um de nós desconfia que possui pelo menos uma das virtudes cardinais - e a minha é esta: sou uma das poucas criaturas honestas que jamais conheci.


O grande Gatsby
F. Scott Fitzgerald

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